Luís Filipe Parrado: Casa


De todas as coisas que se conhecem
nenhuma se compara
ao processo de hibernação
dos ursos pardos. O modo taciturno como
mastigam as últimas bagas,
como revolvem o solo
com as suas grandes garras afiadas e forram
a terra com folhas de arando e musgo
e se enroscam sob as raízes
dos vidoeiros. Numa palavra,
muito pode aprender quem for destemido;
que a neve cai dos telhados,
que o céu se desfaz em mil retalhos,
que depois do degelo não tardará a reverberação.
Entretanto —
antes do fim do mundo tal
como o conhecemos —
deixa-me decifrar de novo a cor dos teus olhos,
a luz dos lugares,
o vento que bate na janela de vidros sujos.
Se a abrisses, as cortinas dançariam.

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