José de Almada Negreiros: Poesia


Quando eu cheguei aqui
o que havia estava no fim
e o que estava por vir
andava disperso pelo sonho de alguns.
Mas a maioria
vivia
o seu dia a dia
e todos contentes
por serem todos assim.

(…)

E foi terrível isto de viver o que há-de vir
entre os que apenas usam o que ainda há.
Era como se tivessem apostado todos
em não me deixarem chegar
ao que eu andava a sonhar.
Enquanto pude fiz-me louco medido,
destes que andam à solta
sem ser preciso encerrá-los.
Encontrei exactamente a medida de escapar à medida deles
e sem estragar a medida de ninguém.
Sem eu o saber fiz todo um método
toda uma arte de atravessar a multidão.
Fiz-me invisível no simulacro de mim.

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