Daniel Faria: Poesia


Prometo-te a palma da minha mão para a escrita.
Cerca-a de magnólias, cerca-me. Podes fechar a escrita
No interior da mão ou na boca dos livros
Podes esquecê-la ou libertá-la dos mil botões
Que ela sopra no interior dos homens.
Podes mandá-la aqueles que mais amas
Ou como pétalas e mensagens nas anilhas das aves
Aos teus próprios inimigos.
Podes desarmá-la para propagares as chamas.
Dou-te, como desde sempre, o poder
De escrever na pele da minha mão
As promessas que te fiz. Sabes que existo
E que vou repetir-te todas as coisas outra vez.

As estações, por exemplo - não sou o único que o digo -,
Não rodam à maneira dos carroséis no largo. No Outono
A magnólia é pensativa como o homem
Que te olha por detrás da janela onde te escrevo.
No Inverno os vidros vão embaciando - aproxima
A tua mão da paisagem que resta
Como se fora o lado do verbo que encarnou. Repara
No banco de pedra - ele está
Sobre ti.
Tu és criança sentada
Que olha para o céu. Há um tesouro
No céu - um coração novo. Reconheces
A magnólia estelar? O interstício solar
Da pupila celeste? Ela está sobre ti
E contempla - é verdade que é pelas lágrimas
Que começam as visões.
Sim. Agora posso explicar-te o mistério das águas.
Debruça-te como ele quando escreveu no chão
Irás entender - elas jorram das palavras.

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