Rabindranath Tagore: A Casa e o Mundo


De repente, o mundo brilhou aos meus olhos com um resplendor novo. Pareceu-me sentir no meu próprio sangue que a terra tinha perdido peso da sua matéria; a sua tarefa quotidiana de manter a vida já não parecia ser um fardo para ela, enquanto um impulso maravilhoso atravessava o espaço recitando o seu rosário de dias e noites. Que trabalho infinito! E, ao mesmo tempo, que energia, que liberdade! Nada poderia detê-la jamais! Do fundo do meu ser, uma fonte de gozo parecia elevar-se, como um jorro de água para inundar o céu.

Perguntei-me com frequência, qual o sentido desta alegria tão bela. Ao principio não pude compreende-lo. (...). Descobri, não sem surpresa que o meu espírito se tinha libertado das brumas que o envolviam. (…). O que, até então, tinha sido para mim a emanação encantadora e misteriosa do meu ser, já não passava de um ornamento barato. Ao sair desse quarto que me parecia uma gaiola partida, penetrei no jardim dourado de luz. A fila de arbustos ao longo do caminho de areia diante da minha galeria, erguiam ao céu os seus tufos rosados. Debaixo das árvores, os estorninhos cantavam buliçosamente. (...).

Nesta simplicidade de vida quotidiana, parecia-me sentir mais próximo das palpitações da terra. O seu bafo quente soprava no perfume dos arbustos e um hino de inexplicável doçura parecia chegar-me deste universo, onde eu, livre, vivia no meio da liberdade de todas as coisas.

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