Leonard Cohen: Lenda
Ela disse-me que um menino construiu a sua casa
numa tarde de primavera
e que esse menino morreu
ao atravessar a rua.
Ela disse que o leu num jornal
que numa esquina da avenida tal
um menino fora atropelado por um automóvel.
É evidente que eu não acredito nela.
Foi ela que construiu a casa
pendurou as laranjas e pintou os frisos dos vãos das portas
e desenhou flores nas paredes.
Fez para o vento objectos de papel,
escolheu pedras pelas formas das suas sombras
e pendurou balões negros e amarelos no tecto.
Cada vez que a visito
repete-me a história do menino.
Nunca lhe pergunto nada. É importante
compreender o papel de cada um na lenda.
Ocupo o meu lugar
entre peixes de papel e relógios falsos
identificando as flores que ela desenhou
sorrindo enquanto ela cinzela a minha cabeça
em grandes moedas de argila
e fazendo-a objecto de uma espécie de amor cortês
enquanto ela contempla a sua própria morte debaixo do tráfego.
-
Leonard Cohen
numa tarde de primavera
e que esse menino morreu
ao atravessar a rua.
Ela disse que o leu num jornal
que numa esquina da avenida tal
um menino fora atropelado por um automóvel.
É evidente que eu não acredito nela.
Foi ela que construiu a casa
pendurou as laranjas e pintou os frisos dos vãos das portas
e desenhou flores nas paredes.
Fez para o vento objectos de papel,
escolheu pedras pelas formas das suas sombras
e pendurou balões negros e amarelos no tecto.
Cada vez que a visito
repete-me a história do menino.
Nunca lhe pergunto nada. É importante
compreender o papel de cada um na lenda.
Ocupo o meu lugar
entre peixes de papel e relógios falsos
identificando as flores que ela desenhou
sorrindo enquanto ela cinzela a minha cabeça
em grandes moedas de argila
e fazendo-a objecto de uma espécie de amor cortês
enquanto ela contempla a sua própria morte debaixo do tráfego.
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Leonard Cohen
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