Leonard Cohen: É Agradável Estar Sentado Com Pessoas
É agradável estar sentado com pessoas
que vivem de noite
esquecidos das suas casas
e das refeições que deixaram
inacabadas no prato
É a hora do café
e do cigarro do pianista
e da canção de Tim Hardin
e da melodia na tua cabeça
que te deixa sempre na expectativa
Penso em ti
pequena Frédérique
com a tua pele branca branca
e os teus sonhos de grandeza
na Normandia
Creio que nunca te contei
que queria salvar o mundo
a ver televisão
enquanto fazíamos amor
pedindo que te servissem vinho grego e azeitonas
enquanto o meu amigo espalhava
notas de um dólar sobre a cabeça
da bailarina de dança do ventre
sob os clarinetes da Oitava Avenida
escutava os teus projectos
de uma loja de animais domésticos em Paris
A tua mãe telefonou-me
disse-me que era demasiado velho para ti
e eu dei-lhe razão
mas uma manhã muito tempo depois
entraste no meu quarto
dizendo que me amavas
De vez em quando encontro homens
que confessam haver-te pago
e algumas raparigas corroboram
que não eras propriamente um modelo
Desconhecerão elas o que significa estar só
comendo ovos cozidos em taças de prata
só perante um cão enorme
que obedece à tua voz
só à chuva na Normandia
vista através da janela de chumbo
só num automóvel de corrida
só perante um prato de espargos num restaurante
só quando se imagina ter um simples príncipe
ou um explorador
Tenho a certeza que sabem
mas todos nós somos filhos da inveja
precisamos de colocar as nossas unhas de pedra
sobre a beleza de outra pessoa
solicitamos o amor oculto
de todos os que encontramos
o amor oculto não o de cada dia
Os teus seios são formosos
um cálido sabor a porcelana
de adoração e de gula
Os teus olhos vêm até mim
sob as perfeitas espigas
de perenes pestanas
A tua boca alimenta-se
de palavras francesas
e das suaves cinzas da tua maquilhagem
Quando estou a sós contigo
deixo de me imitar a mim mesmo
a sós contigo
não peço nada
os teus longos longos dedos
decifrando o mistério do teu cabelo
a tua blusa de renda
que pediste emprestada a um fotógrafo
as luzes do quarto de banho
cintilando nas tuas unhas recém-pintadas de vermelho
as tuas pernas esbeltas cruzadas
quando eu te olho da minha cama
enquanto limpas o orvalho
do espelho
para te infiltrares por detrás das linhas inimigas
da tua obra-prima
Vem até mim se estás envelhecendo
vem até mim nem que seja só para tomar café.
-
Leonard Cohen
que vivem de noite
esquecidos das suas casas
e das refeições que deixaram
inacabadas no prato
É a hora do café
e do cigarro do pianista
e da canção de Tim Hardin
e da melodia na tua cabeça
que te deixa sempre na expectativa
Penso em ti
pequena Frédérique
com a tua pele branca branca
e os teus sonhos de grandeza
na Normandia
Creio que nunca te contei
que queria salvar o mundo
a ver televisão
enquanto fazíamos amor
pedindo que te servissem vinho grego e azeitonas
enquanto o meu amigo espalhava
notas de um dólar sobre a cabeça
da bailarina de dança do ventre
sob os clarinetes da Oitava Avenida
escutava os teus projectos
de uma loja de animais domésticos em Paris
A tua mãe telefonou-me
disse-me que era demasiado velho para ti
e eu dei-lhe razão
mas uma manhã muito tempo depois
entraste no meu quarto
dizendo que me amavas
De vez em quando encontro homens
que confessam haver-te pago
e algumas raparigas corroboram
que não eras propriamente um modelo
Desconhecerão elas o que significa estar só
comendo ovos cozidos em taças de prata
só perante um cão enorme
que obedece à tua voz
só à chuva na Normandia
vista através da janela de chumbo
só num automóvel de corrida
só perante um prato de espargos num restaurante
só quando se imagina ter um simples príncipe
ou um explorador
Tenho a certeza que sabem
mas todos nós somos filhos da inveja
precisamos de colocar as nossas unhas de pedra
sobre a beleza de outra pessoa
solicitamos o amor oculto
de todos os que encontramos
o amor oculto não o de cada dia
Os teus seios são formosos
um cálido sabor a porcelana
de adoração e de gula
Os teus olhos vêm até mim
sob as perfeitas espigas
de perenes pestanas
A tua boca alimenta-se
de palavras francesas
e das suaves cinzas da tua maquilhagem
Quando estou a sós contigo
deixo de me imitar a mim mesmo
a sós contigo
não peço nada
os teus longos longos dedos
decifrando o mistério do teu cabelo
a tua blusa de renda
que pediste emprestada a um fotógrafo
as luzes do quarto de banho
cintilando nas tuas unhas recém-pintadas de vermelho
as tuas pernas esbeltas cruzadas
quando eu te olho da minha cama
enquanto limpas o orvalho
do espelho
para te infiltrares por detrás das linhas inimigas
da tua obra-prima
Vem até mim se estás envelhecendo
vem até mim nem que seja só para tomar café.
-
Leonard Cohen
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