Manuel António Pina: Agora é tarde



Por onde quer que tenha começado,

pelo corpo ou pelo sentido,

ficou tudo por fazer, o feito e o não feito,

como num sono agitado interrompido.

 

O teu nome tinha alturas inacessíveis

e lugares mal iluminados onde

se escondiam animais tímidos que só à noite se mostravam

e deveria talvez ter começado por aí.

 

Agora é tarde, do que podia

ter sido restam ruínas;

sobre elas construirei a minha igreja

como quem, ao fim do dia, volta a uma casa.


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